Nesses quatro anos, desde a última eleição a cargos
federais, tenho acompanhado com satisfação o amadurecimento do PSol no
Congresso Nacional. Deputados como Chico Alencar, Ivan Valente e o surpreendente
Jean Willys se destacam na defesa da democracia, no combate a diversas formas
de discriminação e numa postura propositiva, criticando o governo quando
necessário e apoiando quando coerente. O senador Randolfe Rodrigues, da mesma
forma questiona os espaços sem renovação no legislativo e enfrenta José Sarney,
no Amapá, seu estado de origem.
Além disso tem o corajoso e brilhante deputado estadual do
Rio de Janeiro, Marcelo Freixo. A atuação desses caras me fez decidir, antes
mesmo de conhecer os candidatos, que votaria fechado com o Psol, como forma de
reconhecimento.
O partido amadureceu e eu levei o PSol a sério, mas parece
que ele não. A escolha do candidato a presidente foi bem atrapalhada. Primeiro
Randolfe se autoproclamou candidato, atropelando um princípio do partido que é
a democracia interna. Não deu outra, essa postura de querer poder pra si mesmo
foi mal vista e ficou sem apoio mesmo dentro da legenda. Depois escolheram para
substituí-lo, Luciana Genro. Parece uma boa opção.
Em Mato Grosso a coisa é bem pior. Depois de duas
candidaturas à majoritária (prefeito e governador), o Procurador Mauro se
lançou candidato a deputado federal. É prudente que depois de lançar o nome,
participar de debates e conquistar simpatia de parte do público, ele garantisse
uma vaga no legislativo. Mas e o restante da chapa?
“Não importa, o partido é coerente, quem se lançar deve ser
confiável” – pensei. Pode até ser confiável, mas são muito amadores. O PSol
parece não ter se levado a sério, não apresentou candidatos ao governo e ao
senado à altura dos deputados federais mencionados, nem à altura do seu
candidado mais popular no estado, o procurador.
Cá pra nós, usar a profissão no nome do candidato já ficou
feio, né? É como Pastor Everaldo, Cabo Gervásio, Doutor Walace… Mauro, vamos
melhorar isso. É “da Silva”? Então use.
Percebi essa deficiência no programa eleitoral e no debate. É
amadorismo do partido escolher alguém que não tenha multitalentos. É preciso
decorar alguns números para citá-los de cabeça (quantidade de escolas, de
hospitais, porcentagem de cada setor da economia no PIB do estado…). Não se
escolhe um candidato que não saiba falar, responder a provocações e se portar
diante das câmeras.
Aí alguém diz que “o que vale são as propostas”. Sério que
você acredita nisso? Cristovam Buarque teve 1% de votos quando foi candidato a
presidente, é sério, de histórico limpo e com a proposta de dar total
prioridade à educação. Mas sem estratégias de marketing o candidato não vai a
lugar nenhum. Não falo de dinheiro pra imprimir panfletos ou espalhar cavaletes
na cidade, falo de mobilização dos filiados ao partido, de estratégias para o
lançamento da candidatura, de discursos objetivos sem precisar atacar todo o
capitalismo mundial. Por isso, essa será a primeira vez que vou mudar meu voto
durante a campanha.
Devo votar nulo para o senado e em Lúdio para governador.
Lúdio Cabral é o melhor candidato individualmente, tem um histórico limpo e sua
atuação como vereador merecedora de aplausos. Ele tem propostas lúcidas e
coerentes com sua carreira. Não iria votar nele até agora porque preferi o PSol
e porque tem gente no seu palanque em quem não confio.
Para presidente, me mantenho com Luciana Genro apesar de
considerar que houve falhas na divulgação de certas posturas. Eu sou a favor de
dar asilo a Edward Snowden, mas pra que falar disso agora? Considero que é
necessário romper com a continuidade do PT porque o vício no poder tira a
capacidade de mudança de qualquer equipe.
O governo Lula/Dilma foi omisso nos problemas ambientais, na
violência no campo, com as populações tradicionais, com violência da polícia e
não entendeu nada das insatisfações nos protestos de junho de 2013. Além disso
tem todos esses conchavos políticos que matém Maluf, Sarney, Kátia Abreu, Collor,
Renan Calheiros e mais centenas de parasitas no poder.
Em 2010 eu já dizia que, a longo prazo, era melhor o PT
perder as eleições. Mesmo que o PSDB assumisse e regredisse com algumas
conquistas sociais. Seria preciso piorar para melhorar onde é realmente
necessário, no aprofundamento da democracia. A alternância de poder é boa para
isso. Vou votar em Luciana Genro para presidente, mas se o quadro atual se
mantiver, voto em Marina Silva no segundo turno. Se fosse Dilma e Aécio eu
anularia.
Acompanho a história de Marina e seus pronunciamentos, não
vejo motivo para considerá-la uma radical religiosa nem mais à direita que Dilma. A valorização da questão
ambiental me agrada em sua postura. Já as surpresas que podem vir na sua
política econômica, eu estou disposto a pagar pra ver.