quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Comunicação Social - um curso de Humanas sobre senso comum

Tenho ouvido comentários muito rasos de colegas jornalistas sobre problemas sociais. O de Rachel Sheherazade sobre o bando de linchadores é só mais um. Acredito que essa falta de cuidado em fazer afirmações categóricas, sem dominar o tema, é um erro comum nosso, dos profissionais da Comunicação Social.

Somos muito autoconfiantes no nosso conhecimento. Somos capazes de fazer análises políticas, previsões econômicas, apresentar soluções para conflitos no Oriente Médio... Tudo isso, tendo como fonte, somente outros jornalistas. Sério, somos capazes disso.

Podemos dizer que o cinema brasileiro só tem porcaria, mesmo tendo assistido a somente um filme nacional por ano. Tudo bem, gostar de filme é um critério pessoal, mas conhecer o cinema de uma região e as condições em que se faz esse ofício ajuda a conhecer melhor esse lugar.

O que acho mesmo sofrível é o domínio de teorias científicas nas humanidades. Os jornalistas medianos só conhecem os cientistas humanos a partir dos clichês: Marx é o comunista, Freud é o que diz que todo trauma vem do desejo pela mãe, Adam Smith é o pai do liberalismo, a Escola de Frankfurt considera que o capitalista sempre vai usar os meio de comunicação para se manter no poder...

Isso está errado? Não, mas essa simplificação não permite que ninguém saia da sua caixinha de pensamento para ver o mundo com outros olhos. Um curso de graduação em Ciências Humanas precisa fazer isso, superar os clichês em nossas mentes, apresentar leituras diferentes do mundo e dar ferramentas para analisarmos diferentes aspectos da nossa sociedade.

O curso de Comunicação Social consegue formar gente de Humanas sem nenhum conhecimento das Ciências Humanas. "Mas é preciso? Existe tanto conhecimento específico da comunicação, softwares, linguagens, equipamentos, se for preciso dominar as ciências humanas nunca terminaremos o curso".

É preciso entender, por exemplo, os conceitos antropológicos de Cultura e seus autores, para não falar em "cultura de valor" e "gente sem cultura". A informação, o vídeo, a fotografia são produtos culturais e se espera um mínimo de reflexão nesses elementos de alguém com ensino superior.

Se não existe esse conhecimento, qual a necessidade de haver curso nas universidades para exercer funções na Comunicação Social? Poderia ser um curso técnico em comunicação. Basta o exercício de alguns macetes de redação (acredite, o texto jornalístico é muito fácil de formatar) e o domínio de alguns equipamentos. Já que vamos falar somente o senso comum, para que gastar quatro anos fazendo de conta?

Errei a foto de propósito.